Objetivo é incentivar o desenvolvimento da cultura audiovisual na região.
A IV Mostra de Cinema da Amazônia acontece de 17 a 23 de maio no Cine Olympia, em Belém, o mais antigo do Brasil, em funcionamento. O evento traz uma bagagem de 10 anos e já passou por 14 cidades e cinco países. Neste ano, a mostra acontecerá no Brasil e na Europa. Serão 60 dias de debates, encontros, fóruns e exibições de curtas, médias, longas, documentários e animações de várias partes do mundo.
A mostra abriu um edital para inscrição de filmes, entre curta, média metragem e animação. A prioridade foi dada aos trabalhos da região norte. Segundo os organizadores do evento, a ideia é dar visibilidade à produção local, pois o custo amazônico é maior devido o distanciamento das indústrias. Foram mais de 150 filmes inscritos da região, que passaram por uma curadoria que selecionou 44 obras. A maioria dos filmes é de Belém. A cidade ainda é o maior pólo produtor de audiovisual da região amazônica, mas vários inscritos de todo estado tiveram seus filmes selecionados.
Nesta edição, após passar por França, Holanda e a Alemanha, os filmes serão exibidos na própria região amazônica. Em seguida vão para as cidades portuguesas de Coimbra, Porto e Lisboa. “Nós percebemos que mais do que levar os filmes independentes que são produzidos aqui na Amazônia para o exterior, era importante que nós tivéssemos o olhar da região sobre o cinema que é produzido aqui também. O intuito de fazer isso é não só para que o público tenha conhecimento do que é produzido aqui, mas para que possamos criar de certa forma uma relação entre os produtores de audiovisual”, disse Pedro Vianna, produtor cultural da mostra.
De acordo com Vianna, ainda não existe uma indústria do cinema na região, de forma como há nos EUA e até uma indústria de cinema nacional que podemos perceber o seu crescimento.
“A indústria cinematográfica em nossa região, ainda é muito deficiente então nós precisamos estreitar esses laços de produção entre os realizadores da região amazônica para que a indústria e a cena de audiovisual possam crescer com isso. Essa edição da mostra tem esse perfil regional de intercâmbio cultural não só com o exterior, mas também com a Amazônia”, disse o produtor.
Pedro Vianna conta ainda que há uma justificativa para que não exista esse reconhecimento do cinema em nossa região. Segundo ele, se um filme é produzido de forma independente, geralmente não chega às salas de cinema. São produções que acabam tendo uma visibilidade reduzida a festivais ou quando acontecem mostras. “Quando pensamos no cinema de Hollywood que atrai milhões de espectadores, não há comparação, e isso acontece (aqui) por que não há uma indústria. Nós fazemos divulgação com base em assessoria de imprensa que acaba atingindo algumas pessoas que tem interesse. O que não podemos fazer é comparar ‘O homem de ferro 3’ que é uma super produção com milhões de gastos investidos e que tem todo um apelo de mídia e tecnológico e de produção, com um documentário sobre as mulheres que fazem louças de barro em Macapá. Com certeza o interesse será menor, então o público que assiste cinema independente tem realmente interesse nisso, e não assiste porque é bombardeado pela mídia e compra somente para ter um entretenimento”, argumenta Vianna.
Em uma época em que o acesso a informação é muito fácil e rápido, o espaço da sala de cinema enquanto entretenimento não é mais tão sedutor como antigamente. Hoje existe a possibilidade de fazer downloads na internet, e assistir o filme na TV. Por conta disso, Pedro Vianna diz que é difícil dizer o que motiva as pessoas a frequentarem o cinema. “Esse tipo de evento que realiza mostra de filmes independentes, é um cinema produzido na região norte e não possui grande visibilidade. Contudo, o público que comparece tem interesse nesse tipo de filme que é significativo para eles. Eu acredito que nós podemos transformar as pessoas através da arte, despertar um interesse a ponto da pessoa pesquisar algo a mais sobre o assunto, ou o interesse de produzir também. Então, ainda que não seja um grande público, é importante que as pessoas tenham acesso a isso e que nós venhamos disponibilizar esse material, ou seja, nós estamos fazendo a nossa parte”, acrescentou o produtor cultural da mostra.

Cinema Independente
A maior parte dos filmes brasileiros é considerada independente, já que não existem grandes indústrias para o cinema no país. As obras são produzidas a partir dos recursos de editais da Agência Nacional de Cinema (Ancine), do Ministério da Cultura, via lei de incentivo. Nesses casos, o governo federal oferece isenção fiscal às empresas que patrocinam os filmes. Com isso, elas acabam tendo um marketing cultural indireto.
Para Pedro Vianna, as empresas ainda não tem uma visão de que o marketing cultural é uma ferramenta que elas possam estar investindo. Pra ele, o que existe hoje é uma indução através do incentivo fiscal. “Essa é a realidade brasileira, nós não temos como fugir disso. Toda a região amazônica está produzindo audiovisual atualmente, ainda que não se tenha investimento suficiente, equipamento suficiente para produzir cinema em nossa região. As pessoas têm resistido nesse sentido de tentar cinema e de fazer audiovisual. A tecnologia digital permite que se faça um filme com qualidade tanto quanto nós primávamos antigamente pela produção na película”, diz Vianna.
Texto: Gisele Valadares
Fontes: Daniele Maciel
Fotos: Michele Lobo